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Um basta à tragédia amazônica | Stop Illegal Activity in the Amazon: A Plea From Brazil’s Private Sector

Por Paulo Hartung(*)

Neste tempo pandêmico, no Brasil agravam-se, além da contaminação virótica, a trágica destruição ilegal da floresta amazônica. A leniência com esse crime caminha na contramão das tendências mundiais, nas quais a sustentabilidade entra cada vez mais no foco dos consumidores, das empresas e dos governos.

Esse caminho pode ser visto nos resultados alcançados pelos candidatos do Partido Verde em toda a Europa, além de ser uma questão cada vez mais importante na corrida presidencial dos Estados Unidos. Na Ásia, principalmente na China, o mundo pós-Covid-19 também parece que será um jogo diferente, considerando preocupações crescentes com saúde, sanidade e rastreabilidade do que é consumido.

A crise que se abate nos últimos tempos sobre a Amazônia marca um retrocesso na trajetória brasileira de sustentabilidade, que avançava com crescente reconhecimento mundial. De referência no quesito sustentabilidade e conservação, o Brasil voltou a ocupar o posto daqueles de quem se cobram responsabilidades e posicionamentos firmes para pôr um freio na devastação ilegal. No nosso caso, no coração verde brasileiro, que contribui destacadamente para a vida em todo o planeta.

Desde o final da década de 1980 e principalmente após a Cúpula da Terra de 1992, no Rio de Janeiro, o Brasil vinha se destacando como protagonista na definição de um novo modelo de governança do uso de terra que inclua a sustentabilidade, definindo uma legislação nacional rigorosa e também contribuindo como líder na criação de sistemas multilaterais sólidos de governança ambiental global sobre clima e biodiversidade, entre muitas outras iniciativas relevantes.

Apesar disso, o fato é que a criminalidade voltou com força à região da floresta símbolo do País. As consequências da devastação desenfreada vão além da destruição ambiental. Passam também pelo empobrecimento e exposição aos perigos de um cenário sem lei para a população amazônica, estimada em cerca de 25 milhões de brasileiros.

Ademais, ao transformarmos o ativo ambiental de extremo valor em uma crise internacional, o setor produtivo brasileiro observa uma crescente ameaça à exportação dos seus produtos. Na mesma linha vemos sinais semelhantes na questão de acesso a crédito ligado a grandes fundos internacionais de investimentos.

Neste cenário, uma ação ímpar merece atenção: líderes empresariais brasileiros pedem providências imediatas contra o desmatamento na Amazônia. Lideranças de mais de 50 grandes empresas nacionais e transnacionais e de quatro associações setoriais, do mercado financeiro e da indústria, endereçaram nesta segunda-feira, dia 06 de julho, uma carta-manifesto ao presidente do Conselho Nacional da Amazônia e Vice-Presidente da República, Hamilton Mourão. A carta também foi encaminhada aos Presidentes das duas Casas Legislativas do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, assim como à Procuradoria-Geral da República.

O empresariado brasileiro pede rigor e urgência no enfrentamento dos criminosos desmatamentos, nas queimadas, garimpos e invasões de terras públicas, à margem da lei, bem como das agressões aos povos indígenas. Além disso, reforça a importância do debate institucional sobre a bioeoconomia, com uma produção que seja mais fraterna com relação ao meio ambiente. O País já tem know-how exitoso nesse campo, como evidenciam os setores farmacêuticos e cosméticos e os trabalhos com açaí e castanha, entre outros.

O Brasil é importante para o mundo: 6ª maior população, 5º maior território, 8ª maior economia, lar da maior biodiversidade e das mais extensas áreas de florestas tropicais. Nós nos estabelecemos como um dos principais produtores de alimentos do mundo, alcançando mais de um bilhão de pessoas, com um agronegócio moderno e altamente competitivo, desenvolvido por meio de investimentos maciços em P&D nas últimas quatro décadas, período em que se promoveu uma revolução verde sem precedentes.

Existem nacionalmente inúmeras empresas competitivas em uma dimensão global, as quais mantêm padrões de sustentabilidade e conformidade de classe mundial. O setor produtivo moderno do Brasil já tem patrimônio consolidado de melhores práticas ao integrar a natureza, ciência e tecnologia, gerando valor, preservando e desenvolvendo nossa nação.

Esses esforços são inovadores e precisam ser reconhecidos, valorizados e principalmente diferenciados do contexto das práticas incorretas. De resto, ainda é necessário observar que essas atitudes ilegais que estão ocorrendo no Brasil também se prestam como pretexto para recorrências protecionistas veladas de quem teme a elevada competitividade dos produtos brasileiros.

Por tudo isso, cuidar da Amazônia está sobretudo no interesse do Brasil e dos brasileiros. Esta é uma oportunidade ímpar para construirmos um futuro sustentável e deixarmos um legado vital para as gerações futuras.

(*) Paulo Hartung é economista, presidente-executivo Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), membro do conselho do Todos Pela Educação, ex-governador do Estado do Espírito Santo (2003-2010/2015-2018)

Este artigo foi publicado no Americas Quarterly e pode ser acessado no link: https://bit.ly/2CyN0OO