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Setor florestal na dianteira da economia verde

Por Paulo Hartung (*)

A crise da Covid-19 está acelerando processos e impulsionou pessoas, organizações e poder público a estabelecerem novas formas de viver, de se fazer negócios e criar políticas de desenvolvimento sustentável. Não é à toa que mudanças socioambientais foram percebidas e embaladas por tecnologias que, antes da pandemia, seriam induzidas a passos lentos no mercado global.

O setor de árvores cultivadas sempre buscou por novos caminhos que transformam e aperfeiçoam processos ligados ao cultivo. A adoção de boas práticas de manejo e o melhoramento genético são importantes fatores que fazem do setor mundialmente reconhecido pela alta produtividade, a maior do mundo. Em 2019, o eucalipto atingiu média de 35,3 m3 /ha e o pinus 31,3 m3 /ha. Além disto, também têm evoluído em questões logísticas, desenvolvimento de produtos, novas aplicações e até mudança de paradigma entre os colaboradores.

Isto colocou o setor em posição de vantagem em um cenário econômico que já não é mais o mesmo. A economia verde é uma realidade que vem se consolidando. As empresas terão um papel fundamental na construção de uma sociedade mais saudável e igualitária, com menos riscos ambientais e escassez ecológica.

Pesquisa sobre a preocupação dos brasileiros com a questão ambiental, encomendada pelo Programa de Comunicação de Mudanças Climáticas da Universidade de Yale (Yale Program on Climate Change Communication) em parceria Instituto de Tecnologia e Sociedade - ITS Rio, apontou que para 77% dos entrevistados, proteger o meio ambiente é o quesito mais importante, ainda que isso signifique menor crescimento econômico. Ou seja, o bem-estar da humanidade vale mais. Seja no baixo consumo de carbono, eficiência no uso de recursos naturais, valoração da biodiversidade ou inclusão social, é o momento de agir.

Globalmente é possível notar um movimento sólido por uma nova economia de baixo carbono. A Alemanha destacou-se em 2020, quando Angela Merkel decretou que a retomada econômica no pós-pandemia deve ser verde. O Green Deal, pactuado pela União Europeia, propõe chegar à neutralidade de carbono até 2050. Nos Estados Unidos, Joe Biden mantém a mesma plataforma de cuidado com o clima após eleito. A China, por sua vez, anunciou na Assembleia Geral das Nações Unidas que irá zerar as emissões líquidas de CO2 até 2060.

As organizações que atuam com produtos de base natural, como no setor de florestas plantadas, largam na frente.

Um exemplo é a Klabin, que vem ampliando sua atuação em pesquisa e produtividade, aplicando soluções sustentáveis em produtos mais eficientes e seguros, com barreiras naturais em embalagens, o que as torna totalmente biodegradáveis. A companhia, inclusive, investe em soluções a base de lignina, que antes era utilizada para geração de energia e possui enorme potencial para substituição de matérias-primas de origem fóssil, levando valor agregado a itens como cimento, combustíveis, entre outros. O aporte da companhia em Pesquisa e Desenvolvimento entre 2014 e 2021 está na casa dos R$250 milhões. Em 2016, a empresa inaugurou um moderno Centro de Tecnologia, no Paraná, e, posteriormente, em 2019, o Parque de Plantas Piloto, que possui uma linha para teste com lignina e outra com celulose microfibrilada

A Suzano tem um ambicioso projeto com a nanocelulose, mais especificamente com a celulose microfibrilada. Trata-se de um novo olhar para a celulose, que, partida em pequenas partículas, ganha ainda mais propriedades, como resistência e leveza. Em parceria com a startup finlandesa Spinnova está desenvolvendo um tecido que necessita de uso de menos água e químicos em até 90%.

Já Bracell e Duratex estão com a visão voltada para a versátil celulose solúvel, que também possui um enorme potencial de substituição de matérias-primas de origem fóssil. Sua aplicação vai desde roupas, por meio da viscose, pneus, esponjas, armação de óculos de acetato, cosméticos, até alimentos. A Bracell possui o maior investimento em curso no estado de São Paulo, com R$ 8 bilhões aportados em Lençóis Paulista. Já a Duratex, por meio da LD Celulose, uma joint venture com a austríaca Lenzing, está construindo uma unidade fabril com este objetivo no triângulo mineiro.

A CMPC demonstra na prática que economia circular está no DNA da companhia. Em sua planta industrial em Guaíba (RS), a empresa recicla 99,7% dos resíduos sólidos gerados a partir da produção de celulose. Todo esta matéria-prima é utilizada para produção de 15 novos itens como fertilizante orgânico, chapas de madeira MDF, matéria-prima para produção de cimento, entre outros.

A Papirus é mais uma companhia que tem em seu processo uma alta porcentagem de matéria-prima reciclada. No caso da empresa com unidade fabril em Limeira, interior de São Paulo, algumas embalagens chegam a ter 100% de papel reciclado, com certificação FSC.

A Westrock, por sua vez, tem investido na cultura de pensar diferente. Movimento que reflete em todas as áreas, desde a florestal com melhoramento genético do pinus taeda, e polinização por drones; até a fábrica pensando no cliente e no consumidor final.

Estas são apenas algumas das inúmeras ações do setor, que, inclusive, já espelham o desejo dos brasileiros. Essa é uma preocupação relatada pelos entrevistados da pesquisa encomendada por Yale: governos e empresas foram os mais citados, com 35% e 32%, respectivamente, sobre quem pode contribuir para resolver o problema das mudanças climáticas. Com a união das corporações, será possível desempenhar um papel mais estratégico no desenvolvimento sustentável.

Prever como será o futuro do planeta é difícil, mas as atividades atuais demonstram que este é o caminho, para que o mundo adote práticas mais sustentáveis e responsáveis, a ponto de despertar a consciência de toda a população. Aliás, quem tiver essa percepção de mudança estará à frente. E a indústria de base florestal está pronta para ser protagonista, com um futuro que está nas árvores cultivadas.

O Brasil é um país com 60% de extensão coberta por mata nativa, incluindo a maior floresta tropical do mundo. Característica para ser uma verdadeira potencia. Esse é um espaço para que as indústrias firmem seu compromisso com a sociedade e acelerem a ascensão de uma geração consciente, apta para promover atos que aumentem os impactos positivos e conservem os biomas naturais.

(*) Paulo Hartung é Economista, presidente-executivo Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), membro do conselho do Todos Pela Educação, ex-governador do Estado do Espírito Santo (2003-2010/2015-2018)

Este artigo foi publicado na Revista O Papel