O setor de papel e embalagens na condução das transformações

O setor de papel e embalagens na condução das transformações

Por Sérgio Ribas é diretor-presidente da Irani Papel e Embalagem S.A.

Ao longo das últimas décadas, o mundo corporativo vem passando por modificações profundas em resposta a demandas globais de sustentabilidade e responsabilidade social. Seja por iniciativa própria ou impulsionadas por revisões de regras comerciais, as empresas de grande porte paulatinamente começaram a incorporar preocupações com toda sua cadeia produtiva, sobretudo no que diz respeito a aspectos ambientais e humanos.

Em 2020, porém, surgiu um contexto de exceção a partir da disseminação da Covid-19, fator determinante para que essas reflexões fossem aceleradas. O impacto trágico da doença estimulou pontos de vista mais coletivistas que influenciaram o desenvolvimento de estratégias com respostas à complexa lista de novas necessidades dos consumidores, entre elas a preservação da natureza e a reestruturação das relações interpessoais.

Nesse cenário, a indústria de papel e embalagens se estabeleceu como protagonista. Por conta das medidas de isolamento social, o crescimento das atividades de entregas em domicílio acabou se consolidando. O pagamento do auxílio emergencial no Brasil, por exemplo, deu grande estímulo à venda de alimentos – segundo pesquisa Datafolha de agosto, 53% dos beneficiários utilizaram o recurso para abastecer suas despensas ou fazer as refeições do cotidiano. Paralelamente, houve o crescimento do e-commerce. No primeiro semestre deste ano, as vendas saltaram mais de R$ 12 bilhões, 47% a mais que no mesmo período do ano passado, segundo dados da Nielsen. E o mais emblemático é que pesquisa feita pela consultoria Kantar mostra que mais de 60% dos brasileiros pretendem manter os novos costumes adquiridos na quarentena, principalmente em relação a compras pela internet. Atividades essas que demandam grande volume de embalagens.

Tal aquecimento, no entanto, teve seus custos e impactos. Em estudo publicado no mês de outubro, a consultoria alemã de estratégia Roland Berger trouxe à luz alguns desafios do processo de mudanças do setor que desembocam no emprego de materiais recicláveis em larga escala e o quanto isso carece de comprometimento de governos, empresas e sociedade. O levantamento aponta caminhos essenciais como a elaboração de portfólio de produtos seguindo premissas ambientais, o incentivo ao uso de materiais reutilizáveis e o estímulo a redes de coleta e reaproveitamento de resíduos, tudo isso estabelecendo metas ousadas para os países. Entre elas, o Parlamento Europeu definiu como tarefa para 2030 a redução de 60% dos gases de efeito estufa e a neutralidade de emissão de carbono até 2050.

Ainda segundo a pesquisa da Roland Berger, todos os produtores de bens de consumo consultados pretendem adotar 100% de embalagens recicláveis até 2025, apontando uma tendência promissora para quem atua no segmento de papel e papelão. E o Brasil, ao menos nesse recorte setorial, vem acompanhando os players de relevância no mundo. Dados da ANAP – Associação Nacional dos Aparistas de Papel - de 2018 mostram que a indústria brasileira tem uma taxa de reciclagem de papel de 68,7%. Além disso, na contramão da economia recessiva brasileira, com projeções de forte retração no PIB, o mercado de papelão ondulado prevê um crescimento próximo a 5% este ano, índice raras vezes atingido.

Entre os tipos de embalagens oferecidas pela indústria, já temos no Brasil opções extremamente responsáveis do ponto de vista de respeito ao meio ambiente. Uma delas é o papel para sacos e sacolas, com ampla penetração no varejo físico, crescente expansão no varejo on-line e crescimento vertiginoso no segmento de food delivery. Durante o período em que o varejo físico esteve fechado, o consumo de papel por esse nicho de mercado substituiu em grande parte a demanda de papel para sacos e sacolas. Com a retomada das atividades, presenciamos um aumento no tamanho do mercado para este tipo de papel. E esse é apenas um exemplo entre tantos outros que nosso setor vem apresentando como alternativa a uma atuação mais responsável.

A sociedade pede por soluções cada vez mais inovadoras e que possam reduzir o impacto ao meio ambiente, além de serem feitas em condições dignas e de respeito ao ser humano. E, justamente por conta deste cenário, o nosso setor tem em mãos todas as condições para se estabelecer como condutor das principais mudanças de paradigmas em relação ao uso de embalagens mais sustentáveis.  Podemos não só responder a essa demanda social mas, principalmente, contribuir para o crescimento de nossas empresas de forma admirável e gerar empregos altamente qualificados.