ESG: Um caminho sem volta
*Por Maurício Harger – diretor geral da CMPC Brasil
É inegável que a pandemia acelerou as práticas da sigla ESG no cotidiano de muitas empresas, que têm adotado estratégias ágeis de se reinventar diante do novo cenário e se destacado em relação àquelas que ainda não entenderam o novo cenário. Environmetal, Social and corporate Governance, ESG, que para nós significa um conjunto de práticas sociais, ambientais e de governança, é cada vez mais inerente ao dia a dia e das decisões de muitos negócios na atualidade.
Tragédias recentes da nossa história como Brumadinho, o vazamento de óleo na costa litorânea brasileira e o aumento dos incêndios na Amazônia são exemplos da ampliação dessa discussão, que está muito mais consolidada nos mercados americano e europeu. Toda a conjuntura de 2020 fez explodir e intensificar uma verdadeira agenda de bioeconomia por aqui. Não se trata de modismo, mas de benefícios e vantagens que marcam um caminho sem volta.
Como se sabe, a sustentabilidade, originalmente baseada no conceito do triplo resultado, é precursora do ESG, e é renovada diariamente com as necessidades mais prementes da sociedade. No contexto Social, o impacto nas comunidades nas quais a empresa está inserida e como ambos podem andar juntos e em conformidade, tem se traduzido na geração de valor compartilhado e na cocriação. No viés Ambiental, a gestão hídrica e energética, que vivenciam uma nova crise no Brasil, a logística reversa e a destinação de seus resíduos são alguns exemplos de questões a serem assumidas pela iniciativa privada. E na Governança, que é o início de tudo, a cultura e política adotadas pela companhia impactam diretamente a gestão de risco de todas as atividades da empresa e aspectos relacionados a inclusão, combate à corrupção, direitos humanos, entre outros. Uma gestão integrada e cuidadosa garante longevidade, sustentabilidade, maior retorno financeiro, equidade e valuation à companhia.
Nesse sentido, vale ressaltar que no nosso segmento de atuação – o florestal e de papel e celulose, práticas que conservem os recursos naturais e beneficiem as comunidades são ainda mais necessárias para um ciclo produtivo sustentável. Não falo apenas da economia circular, cuja premissa está alicerçada em uma nova maneira de se usar os limitados recursos do planeta. A gestão empresarial alinhada aos valores de ESG vai além do equilíbrio entre a arrecadação e o retorno para a sociedade e o meio ambiente, mas deve envolver as comunidades em sua cadeia de negócio. De nada adianta as empresas lançarem mão de programas socioambientais ambiciosos e sofisticados se não estiverem abertas a ouvir e conversar com moradores vizinhos dos locais onde operam.
Na CMPC, a agenda ESG e da bioeconomia é prioridade. Exemplo mais emblemático é o recém- anunciado projeto BioCMPC, , investimento de 2,75 bilhões que fará da unidade industrial em Guaíba (RS), uma das mais sustentáveis em celulose no país. A iniciativa, que tem como base o propósito da companhia – criar, conviver e conservar –, alia novas medidas de controle e gestão ambiental à geração de empregos diretos e indiretos e aumento de capacidade produtiva, contribuindo para retomada econômica do Rio Grande do Sul e do Brasil. Para fazer frente à necessidade do aumento de produção florestal, a empresa está implementando um grande programa de fomento florestal. No mais moderno conceito da bioeconomia, em que se faz mais com menos, faremos parcerias com produtores rurais do Rio Grande do Sul, para plantio de árvores para fins produtivos.
Na pandemia, as empresas que já tinham a sustentabilidade e o conceito de ESG na sua estratégia de negócio, principalmente em relação ao capital humano, interno e externo, certamente foram as que melhor e mais rapidamente se adaptaram ao novo contexto imposto pelo momento. A maioria delas tinha propósitos claros, de forma que encontraram mais facilidade em implantar medidas emergenciais com o menor impacto possível no negócio e em seus stakeholders.
A tendência mundial só corrobora esse caminho sem volta. Recentemente, algumas das principais empresas globais, chefes de estado e líderes sociais se reuniram com a ONU na discussão dos objetivos do desenvolvimento sustentável e ações necessárias para alcançá-las. O encontro marcou os 20 anos da criação do Pacto Global da ONU, voltado a ações mundiais de prosperidade em um ambiente sustentável. O Brasil teve destaque no grupo, com o segundo maior número de representantes preocupados e engajados com o tema, que discutiu a urgência em trabalhar o tema e promover mudanças sociais e econômicas que tenham impactos globais. Que esse engajamento e compromisso se traduzam em ações reais que impactem positivamente a vida das pessoas.