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Embalagens de papel: a protagonista das compras de fim de ano

Por Carlos Mariotti
Gerente de Política Industrial da Ibá

A expectativa do comércio cresce com a proximidade do final do ano. A data que inaugura o período de compras aquecidas é a Black Friday, que este ano cai no dia 29 de novembro. Segundo o Panorama do Consumo Black Friday 2024, 85% dos consumidores estão dispostos a aproveitar as promoções prometidas para a ocasião.

Para além de eletrodomésticos e eletrônicos, há um produto mais discreto que ganha protagonismo nesta época do ano: as embalagens de papel. São elas que acompanham os artigos adquiridos por e-commerce, aplicativos de delivery ou nas compras em lojas e shoppings. Sejam caixas de papelão, sacolas de papel, embalagens em papelcartão ou mesmo as finas sedas que decoram presentes e cestas, as embalagens estão sempre presentes em alguma etapa da experiência do consumidor.

A demanda global por embalagens de papel vem crescendo nos últimos anos a partir das preocupações com o acúmulo de resíduos no planeta. Como um produto de origem renovável, o papel também é biodegradável e tem altos índices de reciclabilidade. Os consumidores, assim como o comércio e a indústria, têm favorecido as embalagens de papel não apenas por seus atributos sustentáveis, mas também pela tecnologia agregada ao produto ao longo dos anos.

Hoje, as embalagens contam com rastreabilidade digital —o que permite ao consumidor ter conhecimento de sua cadeia produtiva desde sua origem—, são altamente personalizáveis e resistentes e, a partir das necessidades impostas pela pandemia da Covid-19, podem até mesmo apresentar atributos antivirais e antibacterianos. Além disso, a indústria de embalagens de papel vem avançando largamente para superar desafios tecnológicos antigos, como o desenvolvimento de barreiras biodegradáveis contra umidade quando em contato com alimentos.

Segundo relatório da Mordor Intelligence, as embalagens de papel já representam um mercado global de US$ 400 bilhões, com projeção de ultrapassar os US$ 500 bilhões até 2029. No Brasil, já sabemos que elas têm o favoritismo: 58% dos consumidores preferem as embalagens de papel, pois as consideram melhores para o meio ambiente do que aquelas de origem fóssil, mostra a pesquisa Trend Tracker, encomendada pela Two Sides.

A força do setor é palpável quando observamos projetos como o Figueira, da Klabin, que tem capacidade para produzir 240 mil toneladas de papel para embalagem por ano. Como parte do projeto Gaia, a Irani anunciou investimento de R$ 90 milhões para expandir sua capacidade de produção de papel reciclado para embalagens na unidade em Vargem Bonita (SC). Também em 2024, a Melhoramentos anunciou a construção de uma nova fábrica de embalagens com alto índice de sustentabilidade. Inicialmente, terá aporte de R$ 40 milhões e deve ter capacidade para produzir 60 milhões de embalagens por ano. Podemos citar também projetos estruturantes e de crédito de reciclagem, como o Estação Preço de Fábrica Recicla Embu, da Ibema, ou o projeto Papirus Circular.

No Brasil, as embalagens de papel de fibra virgem são feitas a partir de árvores que são plantadas, colhidas e replantadas exclusivamente para este fim. Outra parte da produção é realizada a partir de fibras recicladas, originárias de embalagens descartadas que, por meio do sistema composto por catadores de papel, cooperativas e aparistas, ganham nova vida útil pela indústria. Ambos os tipos de fibras têm seus benefícios e são complementares. A fibra virgem, de origem renovável, dá início ao ciclo de vida do produto, enquanto a reciclada, resultante do pós-uso responsável, estimula a economia circular.

O setor de árvores cultivadas brasileiro conta com mais de 10 milhões de hectares de área plantada e quase 7 milhões de hectares de conservação. A indústria planta, colhe e replanta 1,8 milhão de árvores por dia, que dão origem a uma multiplicidade de produtos. Tudo isso a partir de uma profunda ligação com o conceito de circularidade. Atualmente, 87% da energia utilizada pelo setor tem origem em fontes limpas e parte significativa das empresas tem como meta ou já opera com o conceito “resíduo zero”, ou seja, trata todo o seu resíduo industrial sem destiná-lo aos aterros.

No caso do papel para embalagens e papelcartão, o índice médio de reciclagem chega a 64% no Brasil, provando que a circularidade é intrínseca ao produto. Isso só é possível com a contribuição dos diversos elos dessa cadeia: consumidores, catadores, cooperativas, aparistas e a própria indústria. Na Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), buscamos exercer função agregadora, fortalecer essa importante cadeia produtiva e contribuir com o desenvolvimento social a partir da economia circular.

Os avanços nesse sentido também podem ser observados em políticas públicas e no aprimoramento de legislações para as quais a Ibá tem contribuído ao longo dos anos. É o caso da Lei de Incentivo à Reciclagem (Lei n° 14.260/2021), que estabelece benefícios fiscais a projetos e iniciativas que promovam a reciclagem; do decreto que instituiu os certificados de Crédito de Reciclagem, de Estruturação e Reciclagem de Embalagens (Decreto nº 11.413/2023) no âmbito dos sistemas de logística reversa; e do próprio Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), um importante marco que define metas específicas para o tema, como a recuperação de 50% das embalagens até 2040.

É notável que as embalagens de papel se consolidaram como mais do que uma opção verde para o mercado. Frente aos produtos de origem fóssil, que se acumulam por anos nos oceanos e não são biodegradáveis, o papel coleciona atributos sustentáveis, com a preservação da biodiversidade e mitigação de Gases de Efeito Estufa (GEE), além de ter um sistema consolidado de logística reversa que leva a um pós-uso consciente, em que o que já foi descartado encontra novo caminho até os lares de consumidores. Neste fim de ano, aqueles que escolherem o papel para embalar as compras da Black Friday ou os presentes que serão colocados debaixo da árvore de Natal estarão, na verdade, fazendo uma escolha olhando para o futuro. Que tenhamos todos um final de ano mais sustentável.

Publicado em: https://www.opapeldigital.org.br/pub/papel/?numero=134&edicao=12284#page/41