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É preciso evitar expectativas irreais na COP30

Por Paulo Hartung*, José Carlos da Fonseca Jr** e Adriano Scarpa***

Trazer a Conferência do Clima para o Brasil foi um acerto. Sediar a COP na Amazônia, patrimônio natural que compartilhamos com outros oito países, oferece oportunidade para que o debate ambiental global venha afinal conhecer a região tão decantada no mundo inteiro. Líderes que por anos discursaram à distância poderão, enfim, ter a chance de ver de perto o objeto de sua retórica.

Outro passo importante foi escolher, não sem algum atraso, uma equipe reconhecidamente qualificada para conduzir a iniciativa, sob a direção do embaixador André Corrêa do Lago, diplomata experiente e respeitado, que, com Ana Toni, montou uma constelação de brilhantes enviados e colaboradores.

Um ponto de atenção é considerar a conjuntura extremamente desafiadora que nos cerca e impacta, diretamente, o que almejamos entregar. É fundamental alinhar as expectativas do que realmente pode sair como resultado da próxima Conferência do Clima.

Salta aos olhos que, desde o anúncio de Belém como sede da COP30, a conjuntura internacional mudou muito. O primeiro semestre de 2025 já está marcado como período de rara instabilidade, em múltiplas dimensões, desde a chamada guerra tarifária aos temerários conflitos que se desenrolam no Oriente Médio e na Europa. Ademais, a retirada dos EUA do Acordo do Paris é mais um exemplo de retrocesso.

É nesse panorama delicado e incerto que nos encontramos, pois, além de potência econômica, os EUA estão entre os maiores emissores de CO₂ do mundo. Fato é que nenhum país ou bloco econômico será capaz de substituí-los plenamente no debate climático global.

Soma-se a isso o fato de que a Europa, habitual fonte de doações e financiamentos ambientais, doravante tem responsabilidades crescentes sobre seus próprios e robustos orçamentos de defesa.

Parênteses aqui: internamente, o Brasil chegará à COP30 em momento de fragilidade. Crise fiscal, instabilidade política e antecipação do calendário eleitoral.

Não se pode ignorar que um toldo sombreia a COP30, projetando-se sobre o caminho até Belém e sobre o ano que se segue, quando essa agenda global ainda estará sob a responsabilidade do Brasil.

O sentimento de fracasso nas últimas conferências não resulta da ausência de metas, mas da falta de ação. A distância entre o que se assina e o que se entrega precisa, urgentemente, ser suplantada. Basta examinar o número minguado de NDCs já renovadas, apesar de ser uma obrigação assumida por todos.

É importante reconhecer que, no caminho para Belém, ganham peso iniciativas como o Fórum de Líderes Locais da COP30 e a programação que está sendo planejada no âmbito da SBCOP30.

Esse contexto todo aumenta nossos desafios como anfitriões. Não devemos alimentar expectativas irrealistas que poderão ser frustradas. Liderar nos exige a maturidade de compreender que a COP de 2025, dez anos após o Acordo de Paris, deve ser uma sólida ponte para avançarmos em trajetória que é incontornável no enfrentamento da crise climática e na renovação do multilateralismo, tão machucado nos últimos tempos.

* ECONOMISTA, PRESIDENTE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ÁRVORES (IBÁ), EX-GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

**EMBAIXADOR, PRESIDENTE-EXECUTIVO DA EMPAPEL E DO ADVISORY COMMITTEE ON SUSTAINABLE FOREST-BASED INDUSTRIES (ACSFI) DA FAO

***ENGENHEIRO, GERENTE DE MUDANÇA DO CLIMA DA IBÁ, DIRETOR DA SOCIEDADE MINEIRA DE ENGENHEIROS

Publicado em: O Globo