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Brasil tem de assumir liderança na questão ambiental, por Paulo Hartung

Por Paulo Hartung*

Este domingo, 5 de junho, mostra-se emblemático em meio à crise climática planetária, o maior desafio das atuais gerações. A data marca o 50º Dia Mundial do Meio Ambiente, criado pela ONU na Conferência de Estocolmo em 1972. Apesar do meio século da existência, os motivos que levaram à instituição deste dia são mais atuais do que nunca: “sensibilizar e impulsionar ações para problemas ambientais urgentes”.

Com tal enredo, o Brasil tem em suas mãos a oportunidade de assumir o papel que lhe é natural, como uma das soluções para o mundo na questão ambiental.

Dono da maior floresta tropical e da maior biodiversidade do planeta, com 12% de água doce, e com uma matriz energética com 45% de energia renovável, o país tem uma riqueza que quase todos almejam. São atributos com a força de posicionar o Brasil como um dos líderes desta nova economia verde. Mas, para aproveitar todo este potencial, temos uma lição de casa árdua a fazer. É imperativo coibir desmatamento, grilagem de terras, queimadas e demais ilegalidades nas florestas brasileiras, em especial na Amazônia.

Manter a floresta em pé é o ponto de partida para escrevermos uma nova história e superarmos a imagem ambiental internacional arranhada que tem nos acompanhado nos últimos anos.

O caminho para isso, nós já conhecemos. Desde a Rio-92, o Brasil demonstrou êxito na redução do desmatamento. Isso passou pela criação do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente, além de investimento em comando e controle. Mas a atualidade abre novas chances, até mesmo, de levar desenvolvimento aos 25 milhões de brasileiros e brasileiras que vivem na região amazônica e sofrem com a falta de infraestrutura como saneamento, serviços de saúde e de telecomunicações, entre outros. A rota do avanço sustentável só tem a nos beneficiar.

O mercado de carbono, uma das saídas mais comentadas para esta nova economia, surge como oportunidade a ser aproveitada. Segundo a consultoria McKinsey, o potencial de geração de receitas a partir do mercado voluntário está entre US$ 7,5 bilhões a US$ 15 bilhões. Para além deste modelo, existe o mercado regulado, cuja criação no Brasil foi realizada via decreto do governo federal no último mês. Um movimento necessário, uma vez que o país já estava atrasado, mas que ainda precisa de uma legislação para ser fortalecido e garantir segurança jurídica.

Outras modalidades de pagamentos por serviços ambientais também sustentarão esta nova ordem. Desde pequenos agricultores até grandes companhias são remunerados por conservar mata nativa, cuidar de nascentes e/ou preservar biodiversidade.

A iniciativa privada também deve atuar neste mesmo rumo. Capacidade, nós temos. A Natura, há anos, faz, a partir da Amazônia, produtos que respeitam a natureza e têm ganhado o mundo. A Raízen utiliza a cana-de-açúcar para produzir o biocombustível etanol e exporta a tecnologia da segunda geração. O setor de árvores cultivadas, por sua vez, cultiva em 9,55 milhões de hectares e conserva outros 6 milhões. Manejo sustentável, atestado por certificações internacionais e que dá origem a bioprodutos essenciais, como embalagem de papel, fios têxteis, livros, papéis para fins sanitários, pisos laminados, painéis de madeira, entre outros.

Estes são alguns dos diversos modelos bem-sucedidos do país que provam ser possível tornar a natureza uma aliada para o desenvolvimento nacional. A descarbonização do mundo passa pela atuação cooperativa do Brasil. Não podemos fechar a porta para mais esta oportunidade, como já fizemos tantas outras vezes em nossa história. Para isso, meio ambiente tem que ser levado a sério. O assunto não pode ser tratado mais como discussão de um ou de outro governo e tem que passar a ser elemento central de um Programa de Estado.

* Economista e presidente-executivo da Ibá, foi governador do do Espírito Santo.

Fonte: O Globo