Biodiversidade, Brasil e o futuro do planeta
A desconexão humana com a natureza não é fenômeno recente em nossa história. Hoje, a corrida planetária pela saúde do meio ambiente coloca o cuidado com a biodiversidade como uma das peças-chave para êxito nesta jornada. Como afirmou Klaus Schwab, criador do Fórum Econômico Mundial em entrevista recente, “as pessoas têm de estar cientes de que a natureza precisa ser regenerada”.
Neste 22 de maio, Dia da Biodiversidade, é vital que todos tomem ciência de que serviços prestados por fauna e flora são fundamentais para a vida humana em qualquer parte do planeta, no campo ou na cidade. Sem a polinização das abelhas, muitos alimentos não estarão à sua mesa; mananciais protegidos por florestas e matas ciliares permitem que a água chegue com qualidade à sua torneira; conhecimentos vindos da natureza possibilitam a criação de vacinas e remédios; o cuidado com espécies animais evitará a eclosão de novas pandemias como a COVID-19.
A agenda climática, inegavelmente, conquistou a atenção global, mas ainda precisa ganhar velocidade em suas ações. A biodiversidade, por sua vez, está um passo atrás e ainda necessita atingir o consciente da sociedade quanto à sua importância.
Na COP 15 (Conferência de Biodiversidade das Nações Unidas), realizada em Montreal, no fim de 2022, foi possível sentir o início de movimentação do setor privado, especialmente do segmento financeiro. Porém, um movimento ainda tímido perto do desafio que temos de enfrentar e endereçar.
Assim, as 23 metas estabelecidas pelo Marco Global da Biodiversidade (MGB) só terão efetividade se os mais diversos atores sociais compreenderem a importância de fazer deste tema um pilar estratégico. Se não for assim, estamos fadados a percorrer o mesmo caminho das 20 Metas de Aichi, que antecederam o Marco estabelecido no Canadá. Em 10 anos, nenhuma delas foi plenamente atingida em nível mundial.
É com este cenário que, mais uma vez, o Brasil desponta como ator decisivo para reinventar o futuro a partir de práticas sustentáveis. Dono da maior floresta tropical do planeta, da maior biodiversidade e com 12% da água doce do mundo, a atuação do país é fundamental para o cumprimento dessas 23 metas.
O país, que vem demonstrando realinhamento com seu histórico papel de cooperação ambiental, precisa também avançar nesta questão criando políticas públicas que estimulem e impulsionem ações que posicionarão o Brasil como protagonista desta jornada. Com uma dose de ousadia, o país pode fazer de seus ativos ambientais um impulso para o desenvolvimento verde. Está claro que a floresta em pé presta serviços ambientais essenciais, ajudando a cuidar do solo, no ciclo de regime de chuvas e na proteção de fauna e flora.
Podemos ir além. Abre-se ainda uma janela enorme para que possamos, com responsabilidade, fazer da natureza uma aliada para avançar em ganhos econômicos que podem nos ajudar a superar a vergonhosa desigualdade social que assola o país. A região amazônica, por exemplo, que relega boa parte de seus 28 milhões de habitantes à pobreza, tem em suas mãos a chance de mudar esta realidade a partir de uma economia baseada em soluções da natureza.
Boas iniciativas de dentro do próprio Brasil iluminam uma das possíveis rotas para superarmos este cenário atual. Um dos exemplos é o setor de árvores cultivadas que demonstra que produção e conservação podem e devem andar de mãos dadas. A indústria florestal brasileira parte do conceito de usar a terra de maneira inteligente, respeitar a natureza e cuidar das pessoas. Assim, realiza um cultivo produtivo responsável em 9,9 milhões de hectares, em que árvores são plantadas, colhidas e replantadas em áreas, comumente, antes degradadas. Nas mesmas fazendas em que fazem o plantio comercial, conservam mais 6,05 milhões de hectares de matas nativas e restauradas, uma área maior do que o Estado do Rio de Janeiro.
Por meio de uma técnica de manejo sustentável, chamada mosaico florestal, as companhias conectam as áreas de produção com conservação, criando verdadeiros corredores ecológicos, auxiliando na preservação da biodiversidade. Animais raros e ameaçados de extinção, por exemplo, já foram avistados nestas regiões, demonstrando que são ambientes propícios para sobrevivência, procriação, alimentação ou deslocamento seguro. Fato é que foram registradas mais de 8.300 espécies de fauna e flora em domínios das empresas de árvores cultivadas.
Na prática, isso quer dizer que a iniciativa privada tem o poder de prover ao consumidor a chance de contribuir no cuidado com a biodiversidade. Escolher por produtos como tecidos feitos com celulose solúvel, lenços de papel, embalagens de papel, livros, copos e canudos de papel, pisos laminados ou painéis de madeira, significa fazer uma opção ambientalmente amigável.
Temos aqui um dos exemplos de processo de ponta a ponta que se mostra uma inspiração. Isso demonstra ser possível que outros segmentos sigam o mesmo caminho e impulsionem o Brasil como um provedor de soluções para o planeta na questão da diversidade biológica.
Se o hoje se mostra extremamente desafiador, com aplicação de ciência, tecnologia e racionalidade, temos em mãos a oportunidade de escrever um futuro com realidade diferente. Todos os atores precisam se conscientizar da urgência da pauta e arregaçar as mangas agora. O poder público tem papel relevante, mas sozinho não será suficiente para endereçar o desafio. O envolvimento do empresariado e sociedade civil é imprescindível. É desta esfera que partirão as mais concretas iniciativas que poderão reorientar a rota da humanidade. Mudar é urgente, pois seguir desrespeitando a biodiversidade é sinônimo de ameaçar o futuro do planeta.
Fonte: Poder 360