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Um exemplo de liderança

Atravessamos os tempos inspirados pelas palavras e movidos pelos exemplos, sempre à luz da história e de seus efeitos na construção do futuro. Já escrevi nesta coluna sobre a importância de lideranças empresariais que iluminem o caminho para superarmos adversidades e retrocessos. Alertei sobre a indispensável formação de líderes que oxigenem e inovem no vislumbre e na construção de uma outra realidade entre nós. E reafirmo: a participação de lideranças empresariais nas discussões sobre os rumos da sociedade é parte do caminho para a construção de um país melhor.


Nesse contexto, e a partir de recentes leituras, dedico esta coluna ao imprescindível olhar para trajetórias exemplares, que, além de nos legar aprendizados, realimentam nossas esperanças e energizam nosso intelecto na direção de um dia a dia inovador. Carlos Aguiar é um desses exemplos.

Recomendo sua autobiografia, “Minha história no papel” (ed. Outras Letras). No livro, Aguiar rememora sua trajetória, da infância modesta no interior do Ceará até se tornar CEO da Aracruz Celulose e da Fibria. Carlos Aguiar foi um dos grandes executivos do setor de árvores cultivadas para fins industriais, peça fundamental na transformação desse segmento em uma potência global de bioeconomia. Mais do que isso, foi e é exemplo de cidadania, ao se engajar em temas de interesse da sociedade e ajudar a construir um país melhor, a partir de sua posição de influência e importância.


Nascido em 1945, estudou não só o apogeu e declínio de ditadores, a que chama de “engenheiros sociais dispostos a construir uma sociedade a qualquer custo”, mas também de grandes líderes, que lutaram pelos interesses de seus países. Ele cresceu à luz de lamparina, banho de cuia, fogão a lenha, com carne seca e farinha. Ao som do rádio de galena, dançou de bolero a funk, admirou Frank Sinatra e os Rolling Stones. Aprendeu Código Morse, datilografia e piano. Até que, há 40 anos, chegou à Aracruz, participando da implantação da Aracruz Celulose no Espírito Santo ainda na década de 1980.


Aguiar foi decisivo para o processo de expansão da empresa, transformando-a, ao lado do fundador Erling Lorentzen, em uma gigante capaz de produzir milhões de toneladas de celulose da mais alta qualidade. A cidade de Aracruz, no litoral capixaba, cresceu junto. Sua população era de pouco mais de 35 mil habitantes e a base de sua economia era a agricultura. Passou para 100 mil habitantes e um IDH entre os mais elevados da região (0,75).


O processo de desenvolvimento do município e da região resulta de estreita parceria entre setor privado e poder público – unidos graças a lideranças cientes de que a oferta de trabalho deveria estar atrelada ao crescimento da qualidade de vida de seus colaboradores e familiares. Como ressalta Aguiar, os melhores profissionais querem residir nos locais em que seus cônjuges também tenham oportunidades e seus filhos tenham boa educação. Assim, foram assegurados não apenas salários competitivos, mas a construção de boas escolas, residências e espaços de lazer no município de Aracruz. Aguiar estava certo de chegar a uma empresa que se preocupava com algo mais do que apenas produzir e ter lucro, algo ressoante com seus valores.


O executivo também chegava a uma empresa que se tornaria destaque em inovação. À época, a Aracruz tinha apenas uma fábrica instalada na cidade, então a maior do mundo, com capacidade para produzir 400 mil toneladas anuais de celulose branqueada, e previa espaço para mais duas ou três unidades, com talvez até quatro ou cinco máquinas de papel. A tecnologia aplicada era similar à das melhores fábricas da Escandinávia e da América do Norte. Criou-se ainda um bem aparelhado centro de pesquisas, um dos responsáveis pelo notável salto de produtividade do setor, com o desenvolvimento de técnicas de seleção genética e de clonagem.


Minha antiga relação com Carlos Aguiar, nutrida no Espírito Santo, meu estado natal e seu estado de coração, só se fortaleceria nas décadas seguintes. Nosso estado vivia um momento muito delicado na década de 1990 e início dos anos 2000, com o sombreamento dos poderes públicos pelo crime organizado, a desorganização e a falência da autoridade governamental. A superação daquela triste página da história capixaba teve participação decisiva de lideranças empresariais e sociais diversas – Aguiar com destaque entre elas.
Ele foi peça fundamental para a criação do Movimento Espírito Santo em Ação, que se mobilizou para o enfrentamento da tutela criminosa sobre a ação político-institucional e que, posteriormente, contribuiu para o planejamento estratégico do estado. Como CEO da Aracruz Celulose, depois Fibria, convenceu seus conselheiros de que era indispensável interagir com outras instituições e empresas do Espírito Santo, a fim de provocar necessárias mudanças. O ES em Ação integrou uma ampla e diversa mobilização em prol da reconstrução político-institucional capixaba, congregando igrejas, OAB, lideranças políticas e empresariais, entre outros segmentos sociais.


Aguiar também fortaleceu a ideia de cidadania corporativa no interior da Aracruz, fazendo com que ela seja até hoje lembrada como exemplo de sustentabilidade e inovação. Também cuidou para que houvesse o desenvolvimento de lideranças participativas, inseridas nas comunidades e preocupadas em contribuir para o desenvolvimento da sociedade.


Ou seja, a trajetória de Carlos Aguiar dialoga com um conceito atualíssimo de liderança empresarial, aquela que cuida do universo em que se situam as empresas, incluindo colaboradores, fornecedores, clientes, comunidades etc., sem deixar de se mobilizar, igualmente, para suscitar e participar do debate e da ação que promovam melhorias efetivas na realidade local, regional, nacional e planetária. Além disso, é inspirador testemunhar a história de um líder criado em família humilde e que construiu uma das mais destacadas carreiras empresariais.


Nesse sentido é que sua autobiografia já nasce como referência, em particular, para jovens se preparando para a vida profissional e que, adicionalmente, possam se sentir motivados a atuar em prol da construção dos destinos do Brasil, como sinaliza a concepção moderna de liderança no mundo da produção. Grandes mudanças em nossa trajetória aconteceram quando forças diversas saíram de sua zona de conforto e arregaçaram as mangas para estudar e discutir os rumos do país. Para além das palavras que nos movem, recomendo, pois, um olhar atento ao ímpar exemplo de liderança de Carlos Aguiar, que inspira e comove pela trajetória de superações e pelo brilhantismo de sua caminhada, que fez e faz história entre nós

Publicado em: CNN