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A revolução do papel higiênico

A China passou por um processo recente de urbanização e levou para seus centros urbanos mais de 800 milhões de pessoas. O pêndulo mudou em 2012, quando o número de habitantes morando nas cidades ultrapassou os da zona rural. Mega potência mundial, os movimentos da China têm efeitos na economia global. Quando estava investindo na industrialização e na construção da infraestrutura do país, observamos reflexos nas economias mundiais, pressão no preço de aço, consumo de cimento e ondas de investimento globais, entre outros. Desde a migração da população para as cidades chinesas e a chegada de muitos dos seus cidadãos à classe média, o mundo tem visto novamente o poder do dragão asiático e os impactos nas mudanças de comportamento e padrões de consumo dos seus habitantes.

Um dos efeitos mais comentados é a revolução dos papéis sanitários - fraldas, guardanapos e papel higiênico. Em 2013, por exemplo, o consumo per capta de papel higiênico na China era de 5 quilos; dois anos antes, esse indicador não chegava a 3,5 quilos. Mas o potencial de crescimento ainda é grande: na América do Norte eram 24 quilos e na América Latina, temos índices de 13 quilos por habitante, em países como o Chile.

E o que isso reverberou para nós, brasileiros? Em 2013, a China representava 30% das exportações de celulose brasileira. Hoje, as fábricas são construídas de olho nesse consumidor e o país asiático representa 40% das exportações de celulose, mostrando que o consumo de papéis sanitários está entrando com força na cultura das cidades chinesas.

O setor de árvores plantadas tem relacionamento de longo prazo com o dragão chinês e tem sido um privilégio acompanhar de perto essas mudanças. Nas minhas primeiras visitas comerciais à China, o cenário era completamente diferente: poluição, infraestrutura antiquada, poucos hotéis e restaurantes. Poucos falavam inglês e os hábitos e infraestrutura de banheiro eram muito diferentes.

Tanto que eles não tinham o costume de usar fraldas. A cultura era outra e alguns resquícios podem ser vistos ainda nas imagens que rodam a internet com bebês chineses de roupinhas com furo no meio da calça, chamadas, em chinês, de kai dang ku. Esse cena ainda é comum, mas está mudando, já que esse é um hábito da China rural, mas que tem sido trocado por fraldas descartáveis.

A revolução continua. As estimativas são de ampliação significativa para os próximos anos de habitantes nas cidades. Dados da Pöyry indicam que até 2030, outros 220 milhões de habitantes chineses devem mudar para as cidades, ultrapassando mais de 1 bilhão de habitantes em centros urbanos. 

Muitos vão entrar na classe média. Até 2030, a estimativa é que cerca de 2 bilhões de chineses estejam em um patamar mais alto de consumo. Com tudo isso, espera-se uma demanda adicional de 22 milhões de toneladas de celulose até 2025. 

Então, vamos continuar observando a revolução do papel higiênico nessa região. E também de embalagens, já que o e-commerce cresce a uma média de 30% ao ano na Ásia, com um faturamento, em 2015, de US$ 685 bilhões só na Ásia, segundo a Pöyry. Taobao e Alibaba estão aí para mostrar o tamanho e potencial desse mercado. 

A China deve responder por 63% do aumento da demanda de celulose para os próximos anos. Mundialmente a demanda de papel deve crescer 1,1% ao ano até 2030. A procura por papéis sanitários, os tissues, e embalagens deve crescer de 2% a 3%, puxada pelo desenvolvimento da Ásia.

O setor brasileiro de árvores plantadas acompanha esse movimento de perto. Investindo em capacidade de produção e no estabelecimento de um relacionamento bilateral aprofundado e tradicional, com comércio exterior competitivo, eficiente e desburocratizado.

*Por Elizabeth de Carvalhaes

Este artigo foi publicado na Revista O Papel